Sobre ele ir embora
Essa última semana me senti pesada demais pela falta que tu me
faz, baby. Eu tento o tempo todo não
me lembrar de você, do que fomos e do que restou de nós, mas aí eu liguei a TV
no domingo e lá estava você, como um dos meus personagens favoritos, o meu Superman. Porque eu tentei não assistir
mais O Homem de Aço para não me lembrar de que tu disseste que teu herói favorito
era ele, e que quando era criança, adorava brincar vestindo uma capa
improvisada fazendo o que via nos quadrinhos. E eu tentei ainda mais não me
lembrar em como eu achava fofo e como aquilo aquecia meu coração e eu pensava
em como você era precioso para mim.
E aí, no meio da semana, quando o chão era
longe demais e eu tentei não cair, eu assisti a um daqueles filmes violentos
demais, porque era disso que eu precisava e acabei assistindo John Wick e eu me
lembrei, mais uma vez, de você. Porque por duas semanas, tu insististe que eu
devia assistir os dois filmes para que a gente fosse ao cinema assistir o
terceiro capítulo. Eu me lembrava. Eu lembro também que a gente não foi. E eu
queria estar falando só do filme. Todos os planos que nunca deram certo rodando
na minha cabeça e eu fiquei tonta. E na sexta, eu só queria ouvir músicas que
não me arrastassem para o fundo, e o que eu ouvi foi uma música que era a sua
favorita quando a gente se conheceu, e foi aí que eu comecei a te xingar,
porque tu fez questão de ser reconhecido em cada detalhe, e que isso só me
fazia sentir ainda mais falta de tudo.
Filho de uma mãe, você não podia só sair de uma vez da minha
vida e arrancar todas essas memórias e detalhes de mim?
Eu não me importo se vai sangrar, porque já está sangrando.
O sábado chegou e eu me peguei entendendo porque eu tinha
sentido tanto a tua falta, era o seu
aniversário. E eu quis muito acreditar que a gente não ia se encontrar
porque eu odeio sair de casa aos sábados, acreditar que a gente não ia se
abraçar só por causa da quarentena. Eu sabia que, na verdade, é que tu já
tinhas saído da minha vida e eu quis te xingar de novo, porque sentir falta de
ti era reconhecer que a gente já não se pertencia mais e que tu tinha ido
embora deixando aqui todas as memórias e os detalhes em mim e que se eu
tentasse arrancar, ia sangrar. Mas sabe o que eu sinto agora? Eu já sinto
sangrando.
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