Eu tenho um grande amor. Não, não tire conclusões precipitadas, não estou falando de uma pessoa. Não estou me referindo a alguém. Acredite em mim quando digo que o meu grande não existe, não de carne e osso, não de cabelos compridos e olhos negros intimidadores. Ele não é alguém, como poderia ser? Se não há alguém no mundo que me aceite como eu sou, complicada e tão defeituosa, como uma rua de asfalto malfeito. Como eu teria alguém que me aceitasse em seus abraços, quando eu precisasse de carinho e não saberia dizer o que machucou? Eu tenho um grande amor. Mas ele está intacto em meu coração, apertando, se contorcendo, querendo ser amado. É de pureza sobrenatural, de generosidade inabalável e de força impetuosa. Eu tenho um grande amor que faz meus dedos dançarem sobre o papel e dizer essas coisas tão corajosas. Um grande amor que, infelizmente, não alcança a garganta e não pode ser gritado, cantado. Que não percorre os meus pulsos e chegam até minha mão para que eu possa tocar alguém. E que não tem valor algum se ficar trancado no peito, abafado e calado, esperando...         

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